Por Naomi Maratea
É O SONHO, NÉ?
Quem acompanha a RETROPUNK já está acostumado tanto com material de RPG nacional quanto internacional. E é claro que o nacional, que está mais perto da nossa realidade, dá um brilhinho nos olhos. Afinal de contas, escrever seu próprio RPG é o sonho de muitos fãs do hobby.
APRENDENDO JUNTOS
Talvez você tenha sido enganado ao ler o título deste artigo. Aposto que esperava um grande autor renomado, mas você recebeu: eu, o Tiririca! (brincadeira).
A autora desse texto nunca publicou um livro de RPG na vida! Entretanto, está, nesse momento, fazendo campanha para que seu primeiro livro, o CDR – Complexo de Detenção e Ressocialização, seja financiado e trabalhando em outro livro, Wild Ties, que será lançado diretamente para compra em formato virtual.
Então, fora os artigos e adaptações já lançados aqui na RETROPUNK, essa autora não tem um extenso currículo de publicações para dividir, mas possui uma experiência bem pé no chão e amadora que certamente se aproxima da realidade de quem quer começar a escrever.
SOBRE CRIAR SEU PRÓPRIO RPG
A primeira pergunta que se deve fazer, assim que se tem uma ideia de jogo, é: por que criar meu próprio RPG?
Sabemos que existem sistemas genéricos como o SWADE para simular qualquer estilo e tema de jogo, então por que criar um sistema próprio? Pense da seguinte forma: você, certamente, está criando um jogo que você quer jogar. Por que você não se pouparia do trabalho de escrever e não jogaria direto em SWADE?
O jogo a ser escrito precisa ser inovador o suficiente para ser seu próprio jogo. Há diversas formas de fazer o jogo ser necessário, algumas nós podemos descobrir ao longo da experiência, mas outras podemos observar agora:
Quando o texto guia o jogador e o narrador a tecer a narrativa de determinada forma. Mesmo quando um jogo utiliza um sistema base comum, como é o caso de Deadlands e Reino Mágico Debaixo da Cama que utilizam o SWADE como base, o livro de ambos coloca os jogadores no clima para entenderem que tipo de narrativa deve ser criada.
O jogo também se torna único quando as regras conversam diretamente com a narrativa. Nos exemplos citados anteriormente: Deadlands e Reino Mágico Debaixo da Cama, o sistema base é SWADE, mas ambos alteram as regras e adicionam a elas de forma que se tornem regras novas e únicas, essenciais para que o jogo exista.
No jogo da autora, CDR, existem mecânicas que conversam diretamente com a vida no sistema penitenciário, tema do jogo. Estamos falando do fato de a vida da personagem ser muito baixa e ser muito fácil de tomar dano, evidenciando a fragilidade de um detento dentro da prisão. Também existe, no jogo, a dinâmica de dificuldades: os atributos das personagens não aumentam suas rolagens, e sim diminuem a dificuldade do desafio, porque na cadeia, nada fica fácil, apenas, no máximo, menos difícil. Quando a mecânica conta uma história, isso faz do jogo de RPG único.
REUNINDO UMA EQUIPE
Quando a ideia de jogo já está decidida, chega a hora de organizar uma “party”.
Cada jogo tem suas características próprias e precisa de profissionais específicos, mas o básico é que, além do autor,um livro de RPG conte com: capista, ilustrador, revisor de texto gramatical, crítico e de conteúdo sensível, diagramador e planejador. Alguns desses papéis podem ser feitos pelo mesmo profissional, mas todos precisam ser feitos!
O autor, ou autores, é quem escreve o livro, é claro. O trabalho de autoria pode ser dividido em quem vai criar as regras, quem vai escrever a lore do jogo, entretanto, é mais comum que todos participem de todas as etapas.
O ilustrador é quem fará as artes internas do livro. O capista é quem fará a capa. O capista pode fazer o título do livro ou não. O ideal é haver um designer para fazer com que o título tenha a cara do jogo, mas nem sempre há verba o suficiente para tudo. Ter um artista que saiba ilustrar, criar capas e criar títulos na sua equipe pode ser uma mão na roda!
O diagramador é a pessoa que vai organizar o texto dentro de um livro de forma bonita e organizada. Não é desenho mas ainda é arte.O trabalho do diagramador é muito importante para que a leitura do livro seja confortável.
Os revisores (ou revisor) vão garantir que seu texto não tenha erros de gramática e sintaxe na parte gramatical, que seu livro faça sentido na parte da leitura crítica e vai garantir que seu conteúdo seja confortável para seu público na parte da revisão de conteúdo sensível.
Por fim, o planejador (que às vezes é o próprio autor) é responsável pelas etapas business do projeto. A depender do tamanho do produto, o planejador pode ser desmembrado em vários profissionais, mas, a priori, o marketing, a publicação, o eventual financiamento do livro, a licença e registro, dentre outras tarefas, é trabalho do planejamento.
DÁ TRABALHO MAS É BOM
Ouvir a comunidade, fazer playtests e entender seu público é essencial para criar um bom jogo de RPG de mesa. O processo é trabalhoso e complicado. Pode ser estressante, ainda mais porque sempre aparece um pepino surpresa para ser resolvido.
Entretanto, porém, todavia, para jogadores como nós que já viveram tantas aventuras maravilhosas sem nem sair de casa por meio do RPG de mesa, poder devolver tudo que o RPG nos deu por meio de um projeto para a comunidade é, definitivamente, a realização de um sonho.

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