Por David Dornelles

Havia um mundo onde dragões, elfos e humanos viviam em harmonia até que um humano tomasse uma atitude que quebrasse todo o equilíbrio”. Ok, essa premissa soa tão clichê que eu admito: não parece tão original… Vamos à sinopse oficial? “Inspirados por uma descoberta extraordinária, dois príncipes humanos e uma elfa assassina se unem numa jornada épica na busca de paz para seus reinos em guerra”. Ei! Não faça essa cara! Confia em mim! Te juro que vale à pena!

The Dragon Prince estreou em 2018 e é uma criação de Aaron Ehasz e Justin Richmond. Se você é fã de Avatar: A lenda de Aang sabe que eles não brincam em serviço. É isso. Nada de spoilers até aqui nem vou tentar te convencer a assistir. Se quiser, assista. Se já tiver visto, bem… aposto que é esse o motivo de você estar aqui. 

Aproveitando que você está aqui…

Para mim foi meio difícil convencer algumas pessoas a ver a série, mas depois de um tempo eu nem me importava se os outros estavam vendo pelo simples fato de que eu não parava de assistir diversas vezes — e obviamente isso era bem mais divertido do que tentar convencer alguém a ver. Apesar da animação não ter agradado à todos, a série traz personagens carismáticos, enredo sensível e boas doses de aventura. Em O Príncipe Dragão nos deparamos com um mundo mágico, repleto de cores e sensações. Aos poucos vamos conhecendo-o junto com as personagens.

A sinopse não mente nem um pouco. Temos um trio numa jornada épica em busca de paz para seus reinos. Para mim, o mais legal foi conhecer esse trio aos poucos e vê-los crescer. Seus arquétipos são muito bem definidos e mesmo que um pouco previsíveis me trouxeram boas surpresas. Aliás, há muitas personagens carismáticas — faço uma menção honrosa à General Amaya que além de ser uma mulher forte também traz para a mídia a lembrança de que pessoas com deficiência existem e podem ocupar os mais diversos postos na sociedade —, mas vamos nos ater ao trio principal para este artigo. 

Amor e Ódio

A verdade é que eu tenho uma história de amor e ódio com adaptações. Ainda assim, eu gostei bastante do texto “Hora de She-Ra” do Thiago Rosa e resolvi entrar na brincadeira. Bem, a seguir você irá se deparar com minha humilde proposta de adaptação de O Príncipe Dragão para Hora de Aventura RPG. Ambos são desenhos repletos de aventura, fantasia, magia e boas algumas mensagens para quem estiver atento à elas. Já adianto que esse artigo é resultado da minha leitura de ambas as obras e você tem todos os direitos de discordar, sim? Aliás, ficarei feliz em ler suas sugestões nos comentários.

Personagens

“A maioria das pessoas acredita que a realidade é verdade e as aparências enganam. Mas aqueles de nós que conhecem o Arcano da Lua entendem que só podemos conhecer verdadeiramente a própria aparência. Você nunca pode tocar na chamada realidade que está além do alcance de sua própria percepção.”

— Lujanne. O Príncipe Dragão. Temporada 2, Episódio 1.

Callum

O meio-irmão de Ezran e filho da finada rainha Sarai nunca se destacou nas funções de um verdadeiro príncipe. Completamente desajeitado nos treinos com espadas e sem trato social, preferiu os livros desde sempre e acabou se descobrindo, quase acidentalmente, como um mago em potencial. Talvez ele seja o primeiro humano na história a aprender um Arcano e ser capaz de realizar magia sem uma rocha primária.

Conceito: Mago aprendiz 

Atributos: Teimosia 5 (Mago do Ar; Lançar Raios); Cachola 4 (dedutivo; jargão científico); Esperteza 3 (astuto)

Defeito:  Tímido (Incompetência para Flertar)

Ezran

O pequeno herdeiro de Katolis é amante de tortinhas de geleia. Bem humorado e otimista, adora estar com seus amigos, sejam eles humanos ou não. Apesar de muito novo, Ez tem se mostrado bastante consciente sobre os conflitos entre Katolis e Xadia, e já se mostrou disposto a fazer qualquer coisa em nome da Paz. Além de Isca, seu sapo de estimação, e Zym, o príncipe dragão, outros animais parecem respeitá-lo bastante e o tratam como um igual.

Conceito: pequeno herdeiro gentil

Defeito: suscetível ao medo

Atributos: Maneirice 5 (Entusiasta; Empatia Animal; Muito Legal) ; Contatos 4 (influente, respeitável); Esperteza 3 (rápido)

Rayla

A jovem elfa da lua Rayla começou sua jornada como assassina, tendo como alvo o rei Harrow e o príncipe Ezran. Porém, ao descobrir da existência do ovo do príncipe dragão, tudo mudou. Agora ela tenta honrar o legado de seus pais, antigos membros da guarda do dragão, protegendo o pequeno bebê Azymondias. Rayla é dotada de movimentos ágeis, é hábil em combate e manobras furtivas. Muitas vezes mostra-se introspectiva e cabeça dura, evitando demonstrar os próprios sentimentos.

Conceito: ex-assassina da lua

Defeito: Obrigação (proteger Zym)

Atributos: Falastrice 5 (Furtivo; Sigiloso; Fintar) ; Teimosia 4 (Invisibilidade); Confusão 3 (Armado)

Um (não tão) breve comentário sobre Escolas e Fontes Primárias de Magia

Desde o primeiro episódio da série somos apresentados ao conceito de magia do mundo: as seis fontes primárias. Em Xadia, tudo é mágico e está vinculado a uma das seis fontes que são: o sol, a lua, as estrelas, o céu, o oceano e a terra. Com a terceira temporada, fica bem visível que a magia emana de tudo — o que surpreende Callum ao se deparar com um punhado de “terra mágica” — e tivemos a possibilidade de entender um pouco melhor sobre os habitantes de Xadia. Sabemos, por exemplo, que existem povos de elfos ligados às fontes primárias — já vimos elfos do sol, da lua, do céu, tivemos uma menção da existência de elfos da terra e suponho que existam os elfos do oceano e das estrelas… inclusive, pela aparência de Aravos, aposto que ele pertenceria a este último grupo. Cada ser em Xadia nasce com um vínculo natural à uma das seis fontes primárias, mas os humanos não nasceram com tal dádiva e acabaram tornando-se usuários de magia sombria.

Enquanto isso, em Hora de Aventura RPG nos deparamos com o conceito de Escolas de Magia e cada mago é adepto de uma dessas. Se você já leu o livro, elas dispensam explicações. Portanto, o que me proponho é tentar relacionar as Escolas apresentadas no livro com as Fontes Primárias da série. Adianto que não será uma adaptação perfeita, mas uma espécie de exercício de assimilação. 

Começando pelo Sol, vemos sua relação direta com o Fogo — que seria a escola análoga — em seguida a Lua apresenta magias de ilusão e invisibilidade e, por isso, pode ser relacionada com a escola da Mente. Não temos muita informação do que as Estrelas representam no cenário ainda, então ficamos com a incógnita por enquanto. O Céu é intuitivamente ligado à escola do Ar — apesar do feitiço aspiro frigis me deixar em dúvida sobre algum poder sobre o gelo – o que nos leva ao próximo ponto. O Oceano está ligado diretamente à água e por isso a escola do Gelo é o que temos como equivalente em Hora de Aventura. Terra e Rocha me parecem pares perfeitos, concorda? Das escolas restantes temos Vida e Morte. A primeira poderia estar incluída em partes em cada uma das fontes — ou não. Vemos que os elfos do Sol usam uma luz mística para tentar purificar Viren, talvez algo ligado à planta e animais e plantas possa estar incluído em Terra e talvez seguindo a linha Avatar a água tenha efeitos curativos. A verdade é precisamos esperar as próximas temporadas. A magia sombria e a escola da morte, por fim, encerram os pares. 

O que fazer com tudo isso?

A resposta curta é: faça o que achar divertido! Todo RPG tem como objetivo maior a diversão e o livro de Hora de Aventura bate bastante nessa tecla. Por isso, caso você queira jogar algo de Príncipe Dragão, pense no que seria mais divertido para você e seu grupo. Querem jogar durante o período da série ou antes? Essas e outras questões definitivamente não são algo que eu iria impor para alguém.

Minha proposta para esse texto era apenas experimentar um pouco as possibilidades de criação de personagens do sistema e compartilhar com você o resultado. Eu fiquei bem satisfeito e acredito que seria muito divertido jogar usando o universo da série e as regras de Hora de Aventura. Eu provavelmente acharia divertido jogar com um elfo do sol ou um dragão, e você? Aposto que deve estar pensando numa resposta! Espero que sim, pois me sentiria com a sensação de dever cumprido.

Caso você não goste da ideia, não tem problema. Você pode fazer do seu jeito ou continuar jogando em Ooo. Ah, não esqueça de se divertir!