Monstro: O Coveiro e a Cabeça
Por Vitor Mattos
O Coveiro
O antigo coveiro do cemitério local foi infectado como tantos outros. Havia acabado de enterrar sua esposa, o último enterro que realizou; ela padeceu de uma estranha doença, antes que se revelasse a realidade do apocalipse pandêmico do vírus cerberus. Entretanto, após o enterro, ele a ouviu bater no seu próprio caixão. Descobriu a cova e abriu-lhe rapidamente o caixão, crendo temeroso que havia enterrado viva sua amada, mas a morta-viva horripilante lhe mordeu uma e outra vez, até que ele conseguiu se esconder dentro do caixão que antes a havia enterrado. Escondeu-se por dois dias no caixão, aterrorizado demais para sair, enquanto a doença lhe tirava toda a força e o fazia sofrer alucinações, até levá-lo à loucura.
Entretanto, o coveiro é um dos raros imunes ao vírus: a doença nunca o matou e reanimou como um morto-vivo. Mas seu tempo enclausurado no caixão o deixou completamente louco. Ele acredita que todos no seu cemitério podem ainda estar vivos, como ele mesmo e sua esposa, e passa seus dias desencavando corpos de seus túmulos, nos quais realiza respiração boca-a-boca, tentando salvá-los da morte. Alguns mortos recentes são infectados por sua saliva e voltam a vida, dando ao coveiro mais convicção de que ele tem de continuar seu trabalho. Depois de terminar de cavar todo seu cemitério, vai procurar o próximo e continuar seu trabalho
Para os outros infectados, o coveiro é um deles. Tem o mesmo cheiro na carne e sua pele tem a mesma consistência, e até se comporta de maneira similar. Ele é sempre ignorado por outros infectados, mas permanece vivo, e tem de se alimentar…
Há algum tempo, adquiriu o hábito de comer outros infectados, ou cadáveres em geral, que ele as vezes cozinha ou não. Talvez até coma uma pessoa viva na próxima vez que encontrar uma, já que acha que todos os vivos são só mortos-vivos.
Características: “coveiro”, “Infectado, mas imune”, “alto”, “forte e musculoso de tanto cavar”, “vivo, mas parece um dos mortos”, “amo muito minha esposa”, “há muito que nunca falo com ninguém, mas ainda consciente”, “como carne podre sem adoecer”, “nunca adoeço, minhas feridas não gangrenam”, “gosto de trabalhar com as mãos e ao ar-livre”, “medo da morte”, “ajudo meus conhecidos que voltaram da morte”
Condições: “extremamente atormentado” “o mundo acabou, todos são mortos-vivos”, “fome por carne”, “eu errei, os coveiros erraram, os enterrados podem estar vivos e preciso salvá-los”, “segurando uma pá”, “extrema amnésia, só lembro de minha esposa e do que veio após o apocalipse”
Tormento: “Todos meus entes queridos e conhecidos estão mortos, eu estou morto”
Convicção: 11 círculos preenchidos, negros, 1 de convicção riscado.
O Coveiro, por ser imune, pode ser a chave para se encontrar uma cura do vírus cérberus, mas está demasiadamente instável e perdido em sua loucura. Talvez se vir algum antigo conhecido ou até um desconhecido que prove estar vivo e que pode ajudar, ele recupere sua última gota de convicção e seja cooperativo, e depois de um tempo pode até ser convencido de que não é um dos mortos-vivos. Mas se passar por um horror muito terrível, como ver sua esposa morrer outra vez ou por engano canibalizar alguém ainda vivo, vai perder sua última convicção, ganhar a condição “febre antropofágica” e estar além da salvação (mas talvez mesmo assim ainda possa ser preso e servir de cobaia contra sua vontade).
Se a aproximação dos protagonistas for agressiva, o Coveiro vai se desesperar, temendo por sua (não) vida; Vai gritar e se esconder, e seu grito vai atrair os infectados desenterrados por ele.
Desenterrados
Os mortos infectados e reanimados pelo coveiro que continuam rodeando o cemitério. Dependendo do tamanho do grupo, armamento ou do nível de desafio pensado para uma aventura com o Coveiro, eles podem ser cinco, seis, dez ou dezenas. A maioria serão desafios fáceis, com maior nível de decomposição.
Sugestões de Características: “alto nível de decomposição”, “médio nível de decomposição”, “ninho de vermes”, “quase esqueleto”, “sem pernas, se arrasta sobre a barriga com os braços”, “se esconde em tumbas”, “lento”, “órgãos para a fora”, “característica reminiscente: para a fronte de sua própria tumba e chora”, “usa a tampo do caixão como escudo”, “sego”, “surdo”
Como usar o Coveiro no seu jogo:
Ao entrar na pequena cidade para saquear alimentos em um mercadinho, os protagonistas encontram os últimos exemplares da “Gazeta” ou “Jornal da Manhã” com as notícias: “Mulher volta a vida no cemitério e morde pessoas; seu marido, o coveiro da cidade, presumido morto”. Nos dias seguintes, outro jornal com a manchete: “Exército na cidade, infectados exterminados, cidade segura”, e o mais recente: “Última edição do Gazeta! Mortos se levantam no cemitério, prefeito ordena evacuação geral!”
Alternativamente ou como complemento, personagens coadjuvantes podem contar a história do Coveiro como uma lenda da região; dependendo do personagem, podem ser rumores bem fantasiosos ou mais próximos à realidade. Alguém pode ter se escondido na cidade quando foi saquear alimentos e visto os hábitos estranhos do Coveiro, como por exemplo o fato dele comer carne morta, diferente de outros infectados.
Os protagonistas que tiverem contato com a Cerberus Lab ou algum outro ator poderoso, com amplos recursos, podem estar pesquisando uma cura. Um personagem desse tipo pode ter usado drones para inspecionar a região e visto os hábitos estranhos do Coveiro, e imaginar ser ele um infectado desperto ou um imune que acredita ser morto-vivo. Esse ator poderoso pode encomendar a missão de capturar o Coveiro para experimentos.
Cabeça Maligna de Doutor Headd
Dr. Malfrey Headd era um dos cientistas em chefe da Cerberus Lab. Quando o apocalipse pandêmico do vírus cerberus começou, ele se tornou o chefe de um dos maiores departamentos de pesquisa da empresa para buscar uma cura. Um homem extremamente inteligente que não tinha pudor nenhum de usar quaisquer métodos ao seu alcance para realizar seu trabalho, que consistia não só em experimentar com infectados mas inclusive em cobaias não infectadas também.
Arquivos confidenciais e vazamentos internos da Cerberus levam a crer que as pesquisas de Dr. Headd tinham interesses ocultos e nefastos. Ele buscava (se com aprovação da Cerberus ou não, é impossível dizer) uma maneira de controlar os infectados, de forma a usá-los como armas, soldados e trabalhadores para trabalhos de pouca complexidade. Ele realizou experiências com os códigos genéticos que faziam algumas raras pessoas serem imunes ao vírus, e observou que mutações aconteciam no sistema nervoso de infectados “despertos”, conscientes. Sua teoria final, apesar dos saltos lógicos típicos de alguém à beira da loucura, era que um voluntário poderia ser tornado imune e infectado com uma variação do vírus que aumentasse as sinapses cerebrais, de maneira que pudesse influenciar e até controlar outros infectados.
Dr. Headd se voluntariou certo dia, injetando em si tanto o vírus mutante quanto uma solução de imunidade, e imediatamente liberou alguns infectados que serviam de cobaia para tomar de assalto a fortaleza-laboratório em que trabalhava. Aparentemente, o doutor cometeu erros quanto ao soro de imunidade, pois começou a agir descontroladamente como um infectado qualquer. Foi impedido a quando seu assistente o decapitou.
Entretanto, sua cabeça continuou viva e seu cérebro quase dobrou de tamanho. Essa horripilante cabeça decepada com crânio super-inchado e cérebro saindo pelos ouvidos tomou o controle dos infectados do laboratório, e um dos corpos a carrega onde quer que vá. Atualemente, todo o pessoal dessa seção do Cerberus foi infectada, todos sob o domínio da cabeça desse cientista louco.
Características: “cabeça decepada”, “Bom estado de conservação”, “Consciente e Extremamente inteligente”, “completo controle de todos infectados a 15 m²”, “Geneticista Eugenista”, “Bioquímico”, “Ambiciona dominar o mundo”, “em busca de um corpo vivo para implantar sua cabeça”, “pode ver através dos olhos de infectados em até 15m de distância” “Cordas vocais comprometidas, fala através da boca de outros infectados”, “Louco psicopata”, “minha pesquisa é mais importante que qualquer vida”, “sem fome por carne humana”, “busca sempre auto preservação”
Condições: “dentro de uma bandeja de metal”
Corpo que carrega a cabeça:
Características: “sob total controle de Dr. Headd”, “alto”, “forte”, “bom estado de conservação”, “rápido”, “esperto” “proteger a cabeça de Dr. Headd a qualquer custo”, “consegue usar qualquer item quase tão bem como um vivo”
Condições: “vestido com avental de médico, luvas de borracha e estetoscópio”, “bisturi afiado em sua mão”, “revolver .38 carregada no bolso”
A Fortaleza-Laboratório de Dr. Headd tem um fedor pútrido de dezenas de infectados. Todos os infectados sob controle de Dr. Headd (ou seja, a uma distância de 15m do mesmo) estão armados com metralhadoras e fuzis, e conseguem usá-los se sofrerem um ataque massivo; entretanto, os infectados sob controle de Dr. Headd vão tentar capturar personagens vivos sempre que possível, tão logo eles entrem em seu lar, para que o Doutor realize uma cirurgia de substituição de cabeça. Em seu laboratório central, existem vários corpos decapitados… suas tentativas que fracassaram.
Como usar a Cabeça Maligna de Doutor Headd no seu jogo:
A Cabeça Maligna de Dr. Headd vai ser um grande desafio para se enfrentar, por conta da maneira coordenada que os infectados agirão, seus armamentos e a engenhosidade de seu manipulador. Os protagonistas devem estar muito bem armados e/ou ter um plano muito engenhoso para combatê-los.
A Cerberus Lab. vai oferecer um grande prêmio a quem se voluntariar a exterminar o cientista louco infectado e roubar sua pesquisa (essa última provavelmente pode ser dada secretamente, apenas ao protagonista mais corruptível do grupo). Talvez pesquisar uma cura ao vírus, ou quem sabe para controlar o mundo pós-apocaliptico.