Por Naomi Maratea, 
Créditos da Imagem: Dungeon Geek
RPG É UM HOBBY PARA SE PRATICAR ENTRE AMIGOS, MAS…
A maioria dos praticantes do RPG usam do hobby como motivo para se encontrar com amigos, entretanto, com a disseminação da prática que acontece nos dias atuais, o RPG começou a conquistar outros espaços.
Grupos como o Contos Lúdicos, RPGirls e ZNES surgiram nos últimos tempos com o objetivo de, na condição de projetos socioculturais, levar o RPG para espaços públicos na forma de atividades culturais. Essa iniciativa faz com que pessoas que não tenham aquele amigo sabichão que comprou um carregamento de livros também tenham chance de conhecer o maravilhoso mundo dos jogos de interpretação e dados!
OS EVENTOS DE RPG PARA PÚBLICO ABERTO
Quando se narra RPG para os amigos, já se tem uma pequena noção do que se esperar (todo mundo sabe daquele amigo bardo que sempre vai fazer uma piada sem graça ou daquele sem noção que vai fazer o grupo todo ser morto), entretanto, quando se está jogando ou narrando com uma mesa repleta de estranhos, a experiência que vem aí pode ser qualquer coisa!
A melhor maneira de enriquecer seu repertório é absorver experiências e ideias de pessoas com histórias de vida completamente distintas da sua própria. Idades, gêneros, identidades, qualquer um fora da sua bolha, culturas etc.
OS DESAFIOS
Ao se narrar para pessoas que não se conhece, a narradora está exposta a possíveis situações ruins: todo mundo sabe que, infelizmente, a bolha do RPG ainda está repleta de pessoas machistas, LGBTfóbicas, racistas e desagradáveis no geral.
Certamente, grupos como o Contos Lúdicos, que organizam constantemente eventos abertos ao público, não podem colocar qualquer pessoa como narradora, pois é necessário que aquela que guiará o jogo saberá coibir ações e declarações que podem ser ofensivas para o evento, para o jogo e para quem está na mesa e também é necessário que a própria narradora não perpetue esse tipo de atitude.
UMA HISTORINHA
A autora que vos escreve, que já administrou diversos eventos de RPG com o público, já narrou, algumas vezes, mesas para crianças de 8 a 12 anos. Numa dessas, ela ficou sem reação ao se deparar com algo totalmente inesperado:
Era uma mesa sobre piratas, e a braço-direito do navio tinha acabado de recrutar o grupo de aventureiros para fazer parte da tripulação da capitã Rosa. Foi dito para o grupo “nos encontrem no porto ao nascer do sol”.
Uma menina de oito anos, que jogava nessa mesa, ficou indignada com a declaração: nascer do sol? É CEDO DEMAIS! Quero sair pelo menos às 10h, antes disso não!
Já estamos acostumados a, como um grupo de heróis, não ter problema nenhum com “nascer do sol”, só queremos nosso descanso longo para recuperar os pontos de vida, entretanto, uma pessoa com a inocência infantil e sem os vícios do RPG vai levar em consideração coisas que nós ignoramos.
No final das contas, a aventura mudou de foco completamente: o grupo passou o dia tentando encontrar a capitã e a convencer que sair às dez da manhã era mais favorável. E deu certo!
EVENTOS ONLINE
Desde por volta de 2019, o mundo vem enfrentando a sua primeira pandemia viral em muito tempo e, por conta disso, a humanidade precisou reaprender a ficar em casa. Durante o pico da pandemia, sair de casa para encontrar os amigos ou, pior ainda, organizar eventos públicos de RPG se tornaram atividades impensáveis.
Nesse momento, o RPG online se tornou uma realidade mais forte do que nunca. Corey Rosemond, COO do Roll20, popular site para jogos de RPG online, declarou um aumento de três dígitos na base de usuários da plataforma de março de 2020 até março de 2022, dobrando a quantidade de pessoas inscritas durante o período.
Durante o “bam” do RPG pelo computador, criaram-se e se fortaleceram diversas comunidades dedicadas a diferentes nichos dentro do hobby, o que levou a acontecer diversos eventos e lives, o que, consecutivamente, transportou a dinâmica dos eventos presenciais para o computador. ,
Na jogatina online, tudo que se aplica aos eventos presenciais podem também ser levados em consideração, mas aqui há um recurso muito valioso: o botão do block. Nos encontros online, todos têm recursos para não se sentirem desconfortáveis. E não só o bloqueio: formulários preenchíveis para triangular preferências e pesquisa de background são outras ferramentas virtuais que o evento presencial, infelizmente, não consegue ter na maioria das vezes.
No evento online, porém, o jogo fica acessível a mais pessoas e o suposto anonimato da tela incentiva ações inconvenientes que as pessoas não teriam coragem de fazer cara-a-cara. Se por um lado, no evento presencial é necessário mais fibra, no virtual é necessário o dobro do cuidado.
Ambas experiências são perigosas mas, tendo a estrutura e experiência certa para lidar com os perigos, certamente a narradora de RPG consegue conquistar experiências incríveis ao participar de eventos.