Abaixo a Fantasia Épica, Que Venha a Fantasia Spaghetti! – Uma resenha de Brancalônia por Mateus Herpich
Nota do Editor: Esta é uma resenha de Brancalônia. Isso mesmo, igual diz o título.
…
…acho que bateram forte demais na minha cabeça na última briga na taverna. Vamos à resenha!
Reduzir Brancalônia a “D&D Italiano” é tão grosseiro quanto trocar molho de tomate por ketchup. Por baixo das regras já conhecidas de D&D, do humor macarrônico e de todas as referências a obras italianas, Brancalônia é um RPG malandro, cara-de-pau e sem medo de tirar sarro de si mesmo. Portanto, tire a cera do ouvido pra me escutar melhor e venha conhecer o Reino de Talha.
Fantasia às Avessas
A fantasia medieval é um gênero que costuma se levar muito a sério. Os heróis são todos valorosos, os vilões são sempre terríveis, cada frase é um discurso inspirador ou uma profecia sinistra. Isso certamente cansa, e não é à toa que muitos deixaram este gênero de lado. A todos que se sentiram representados, recomendo dar uma chance a Brancalônia.
Pra começar, as personagens não têm nada de heróicas e, na verdade, não passam de Canalhas: heroínas ébrias e salafrários encardidos, trambiqueiras e canastrões, cavaleiras de moral dúbia e bárbaros charmosos, bucaneiros, charlatãs, párocos, vagantes, a ralé do Reino, as buchas de canhão, a raspa do tacho das companhias mercenárias… em resumo: aqueles que aparecem quando se precisa de um herói, mas todos estão ocupados.
Brancalônia tem dois lados: um cômico e absurdo, outro pé no chão e brutal. Ambos os estilos se engalfinham no cenário, mas é o cômico que leva a melhor, e não tem nada nas regras que não tenha sido pensado para ser engraçado. Desde os nomes cheios de trocadilhos até regras para disputas ridículas, não dá para levar a sério os Canalhas.
Regras para Canalhas
Temos regras para Brigas de Taberna (combates não-letais), Folga e Folia, Transgressões, jogos de apostas e muitas outras oportunidades dos Canalhas gastarem umas moedas, testarem a sorte e quebrarem a cara.
Por outro lado, as regras de Descanso dos Canalhas, Heróis de Baixo Escalão e Equipamento Ruim deixam bem claro que não dá pra resolver tudo na base da violência: se curar das feridas e olhos roxos leva mais tempo do que em um jogo habitual de D&D, as personagens são menos poderosas e suas armas e armaduras costumam cair aos pedaços nos piores momentos. Dessa forma, fugir, ludibriar, subornar ou simplesmente cair, mas cair rindo, são conclusões possíveis e, ainda por cima, incentivadas pelas regras, tornando a vitória — quando os Canalhas finalmente provarem que não são são um bando de imprestáveis — ainda mais satisfatória e digna de uma comemoração que vai abalar a cidade.
Em vez de explicar cada uma das regras de Brancalônia para tentar convencê-los de que este é o melhor cenário de D&D — até porque vocês podem baixar de graça o Guia Rápido de Brancalônia no site da RetroPunk — eu vou mostrar para vocês a sequência de absurdos e ridículos que um Bando de Canalhas (nada de “grupo de aventureiros” por aqui) é submetido em cada aventura.
Um Bico Brancaloniano
Imagine a seguinte situação: os Canalhas são contratados para matar o dragão que aterroriza uma das províncias do Reino, uma terra de saltimbancos e agiotas chamada Galaverna. Nosso elenco é composto por um frei brigão, uma crédula cavaleira errante, um milagreiro que nunca tomou um banho sequer na vida e uma bruxa agoureira carregada de parafernálias sobrenaturais. Se esta fosse uma típica partida de fantasia medieval, os aventureiros buscariam conhecimento sobre o dragão em bibliotecas empoeiradas, invadiriam seu covil matando monstros e lacaios, enfrentariam a terrível fera de fogo e voltariam para casa com pilhas e pilhas de ouro.
Mas isso aqui é Brancalônia, e nosso grupo é feito de Canalhas imprestáveis, atrapalhados e cheios de si, então as coisas funcionam diferente. Pra começar, o bando não tem tempo de reunir informações sobre esse tal dragão porque nossa cavaleira errante luta contra seu vício em jogos de aposta – e perde toda vez — então está devendo dinheiro para o “padrinho” de uma família criminosa. Sem tempo nem de vestir as calças, o bando começa a aventura fugindo da cidade. O único que conseguiu um mínimo de informações foi o frei, perguntando a um Canalha aposentado, mas ele estava bêbado na ocasião. Metade da conversa o homem santo não lembra, a outra metade ele ouviu errado.
O Condottiero (o narrador da nossa partida de Brancalônia) rolou em uma tabela de rumores e determinou que o frei descobriu a localização aproximada do covil deste dragão, uma caverna na face norte de uma montanha, e que a fera é um terrível ser cuspidor de fogo.
Tudo mentira, é claro, porque o povo de Brancalônia gosta de inventar e exagerar suas histórias. O bando, porém, não sabe disso, e parte às pressas, famintos e mal equipados, rumo a esta montanha.
Estradas que Não Levam a Lugar Algum
O caminho passa por uma floresta densa que dizem ser lar de fadas, e dessa vez isso é verdade! O problema é que as fadas têm um jeito especial de fazer as coisas, uma magia conhecida como Extravaganza (exagere na pronúncia do X), e suas trilhas andam em círculos, levam para cima e para baixo e nunca chegam a lugar algum. Os Canalhas passam dias vagando por essa floresta, sem nada para beber além de água de poça de sapo e comendo apenas macarrão sem molho.
Eventualmente, eles dão um jeito de sair, talvez quando a bruxa parar de fingir que conhece o caminho e eles finalmente perguntam por direções. A grande montanha se ergue diante deles, imponente demais para os Canalhas, e espirais de fumaça escapam de fissuras na rocha. Parece um lugar terrível, e eles dariam no pé se soubessem o caminho de volta, mas, sem alternativa, o bando começa sua escalada.
Subir a montanha é uma aventura à parte, e, quando finalmente adentram o covil do dragão, os Canalhas têm uma surpresa: onde devia estar a terrível fera de fogo, eles se deparam com um bando de brigantes. São eles que assolam o interior de Galaverna, soprando berrantes estridentes e queimando as fazendas, espalhando rumores na cidade para o povo acreditar na existência de um dragão e deixá-los em paz.
Bom, então foi tudo um mal-entendido, e graças aos Santos do Calendário não existe dragão algum. Já pensou? Esses Canalhas tendo que enfrentar um dragão de verdade? O grupo se prepara para dar meia-volta quando Abelarda, a líder dos brigantes, diz que, agora que eles sabem a verdade, ela vai precisar matá-los.
Realmente, esperar por uma solução pacífica seria exigir demais da sorte, e quem manda em Brancalônia é o Azar. O frei estala os punhos, o milagreiro começa a rezar e a cavaleira tenta lembrar de onde deixou a espada, mas a agoureira tem uma ideia melhor: e se eles se unirem ao bando de brigantes? A ideia parece absurda, mas de um jeito interessante, e uma negociação tem início. Antes do raiar do dia todos estão roucos e embriagados, mas, um acordo é fechado e, em vez de matarem o “dragão”, os Canalhas agora fazem parte de seu bando.
Riscos Ocupacionais
E é então que chegam os temidos, os terríveis, os piores dos piores: os Agentes da Equitalha.
Todos os Canalhas são procurados pela justiça, obviamente, e suas Transgressões variam desde interrupções de execução pública até o roubo do porco sagrado de Santa Polenta.
Cada uma dessas contravenções aumentou sua Talha – a recompensa por sua cabeça ou captura, e um fator de orgulho para um verdadeiro Canalha. Mas se há quem cometa crimes, há aqueles que vão atrás dos criminosos, e estes cães-de-caça são os caçadores da Equitalha, e eles os seguiram até aqui. “Obrigado por fazerem o nosso trabalho e encontrarem o covil destes vilões”, diz o líder dos caçadores, carregado de desdém. “Agora, por que vocês não…”
Nunca saberemos o que o renomado caçador de Talhas diria, porque uma garrafa vazia cruza o ar e se espatifa em sua cabeça.
Que reine o caos!
Uma Autêntica Briga de Taberna
Barris rolam pelo chão atropelando os incautos, cabras berram e correm por entre as pernas, panelas se tornam armas e suas tampas, escudos. Alguém é jogado pela janela e volta coberto de lama, distribuindo socos e pontapés sem se preocupar com quem está atingindo. A Equitalha é boa no que faz, mas os Canalhas são maus. Eles jogam sujo e, unindo forças aos recém-adquiridos aliados, são eles que levam a melhor.
Depois da intensa briga, não há tempo para descansar: o esconderijo na montanha foi comprometido, então é hora de procurar um novo covil. Mas primeiro, o bando de Canalhas vai gastar tudo que encontraram nos bolsos de seus oponentes e torcer para nunca mais verem suas caras feias.
Adentre Brancalônia!
E assim é um bico brancaloniano: mais anárquico do que heróico, começando na sarjeta e terminando na taberna, porém atravessando aventuras fantásticas e surpreendentes, para as quais os Canalhas certamente não estavam preparados – e muito menos o Condottiero!
Se você e seu grupo quiserem renovar a tão desgastada fantasia medieval, ou se quiserem tirar sarro de seus clichês, Brancalônia os aguarda.
Gostaram dessa resenha? Brancalônia entrará em pré-venda em breve! Enquanto isso, fique ligado em nossas redes sociais para mais novidades, e confira sobre nossos outros sistemas no nosso site!
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