Por Yuri Bravos

Se você já leu Sandman e joga RPG, você já pensou em como jogar no cenário dos Perpétuos. Posso dizer isso com tranquilidade porque eu mesmo passei por isso. Acontece que toda a história de Neil Gaiman envolve forças e poderes que estão muito acima do normal. Além de fazerem parte de um cenário cheio de regras próprias e que não estão claras desde o princípio. Esse é, com certeza, o maior desafio para que Sandman chegue numa mesa de RPG. Como equilibrar essas coisas?

Eu não tinha essa resposta até… o mês passado! Quando me dei conta que estava com um jogo pronto para receber esse cenário: City of Mist!

Perpétuos, sonhos, feiticeiros e… mortais?

Colocar um Perpétuo em jogo é algo complicado, pois eles são personificações de conceitos universais. Eles são poderosos, são, bem… perpétuos, e, ao mesmo tempo, Lorde Morfeu se descuidou um momento e ficou preso numa redoma por quase uma centena de anos. Um sistema simulacionista não consegue abarcar essas duas verdades. Mas City of Mist permite exatamente esse tipo de coisa acontecer. Uma vez que não há números e sim poder de influenciar a narrativa, é perfeitamente plausível que algo assim ocorra em mesa e com as regras-padrão. Dúvida? Vamos lá!

Quando o Sandman encurralou o Coríntio para levá-lo de volta ao Sonhar depois da sua fuga, ele ativou o movimento Partir para o Abraço. Estava completamente confiante, afinal ele tinha suas Relíquias que havia criado com seu próprio poder. Acontece que ele rolou um número baixo no dado (ou foram as Brumas que dificultaram tudo? Afinal, ele não é tão poderoso ali como no Sonhar…) e tirou um 6-. A Mestre de Cerimônia decidiu então usar um dos seus movimentos fortes e Virar o Movimento Contra o Jogador. Se Lorde Morfeu achou que ia capturar o Coríntio de volta para o Sonhar, foi ele mesmo capturado de maneira um tanto quanto acidental por um grupo de ocultistas.

Vê? Encaixa-se perfeitamente. As personagens também gozam de elasticidade de serem mais ou menos tocadas pelo Mythos e ainda assim serem capazes de influenciar a narrativa como um todo. Quer ser um sonho? Pode. Um demônio talvez? Pode. Uma feiticeira da família Constantine? Perfeito. O fato de mesmo os Perpétuos terem de lidar com certa humanidade garante que os temas de Logos permaneçam relevantes. Se você viu a série ou leu os quadrinhos, está a par de certos Relacionamentos do Oniromante ou como a Personalidade do Coríntio é vital na construção de quem ele é.

Ok, mas o que muda?

Um pequeno paradigma: enquanto no jogo clássico de City of Mist você é um ser humano que foi tocado por um Mythos, no cenário de Sandman você é o próprio Mythos. Isto é, não necessariamente você tem uma vida humana ordinária. Mas você a deseja. Por isso ainda há temas de Logos e eles continuam validíssimos. Os sonhos e pesadelos que fugiram do Sonhar queriam experimentar o que é ser humano. Os Perpétuos servem a humanidade e, de certa forma, são encantados por ela. Sua personagem é o próprio Mythos que anseia por ser um pouquinho humano também.

Como trazer o cenário com tudo para a mesa

Você deve ter observado que um passo importante do exemplo de jogo dado mais acima foi a escolha do movimento forte da Mestre de Cerimônia. A descrição mais completa deste e dos demais movimentos da MC está no Guia da Mestre de Cerimônias que está em Financiamento Coletivo na nossa Loja Virtual. Conhecer bem esses movimentos é a melhor forma de traduzir as regras não ditas tão comuns no cenário de Sandman.

Além disso, o Guia da MC traz orientações para a criação de Avatares, o que é essencial para criar antagonistas memoráveis para o seu jogo (Lúcifer, Desejo, eu estou olhando para vocês). A forma de agir dos Avatares é normalmente indireta, através de uma rede de auxiliares ou capangas, tudo para atingir seus objetivos quase incógnitos. Exatamente como fazem os antagonistas em Sandman.

Por último e não menos importante, o Guia da MC dedica uma seção para ensinar a escrever casos e utilizar o iceberg como forma de orientação dentro de jogo. Se você como Mestre de Cerimônias não quiser se sentir perdida num cenário tão vasto de possibilidades e lugares impossíveis, planejar bem seu icerberg antes do início do jogo será crucial para manter as coisas coerentes, sempre claro, deixando margem para a agência dos jogadores.

Por tudo isso, City of Mist é perfeito para trazer Sandman para sua mesa de RPG. E a cereja do bolo, se você for a MC, é ter o Guia nas mãos para dar vazão ao Sonhar! Não perca a chance de participar do financiamento clicando AQUI!


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